O Hamas aceitou nesta segunda-feira uma nova proposta de cessar-fogo apresentada pelo Egito e pelo Catar, que estão mediando as negociações para uma trégua com Israel na Faixa de Gaza, informou uma autoridade do movimento islâmico. O acordo prevê uma pausa inicial de 60 dias e a libertação dos reféns em duas fases, como prelúdio para um acordo final para o fim da guerra.
A decisão surgiu mais de uma semana após o Gabinete de segurança de Israel ter aprovado planos para assumir o controle da Cidade de Gaza e dos campos de refugiados vizinhos. Com o objetivo declarado de derrotar o Hamas e libertar os reféns capturados no ataque de 7 de outubro de 2023, que deu início à guerra, a medida gerou ampla oposição tanto no país quanto internacionalmente.
— O Hamas apresentou sua resposta aos mediadores, confirmando que tanto o Hamas quanto suas facções concordam com o novo cessar-fogo sem solicitar nenhuma emenda — disse à AFP a fonte, que pediu anonimato.
Segundo a autoridade do Hamas, os mediadores devem anunciar em breve "que um acordo foi alcançado e definir uma data para a retomada das negociações", além de oferecer garantias para implementar os acordos e continuar as negociações com vistas a uma solução permanente.
Israel, por sua vez, ainda não respondeu à proposta.
'Confrontados e destruídos'
Uma fonte da Jihad Islâmica, outro grupo islâmico armado que lutou ao lado do Hamas em Gaza, disse que o plano contém um "acordo de cessar-fogo de 60 dias, durante o qual 10 reféns israelenses serão libertados vivos, juntamente com um certo número de corpos". Dos 251 reféns capturados pelo Hamas durante o ataque que deu início à guerra em outubro de 2023, 49 permanecem em Gaza, incluindo os corpos de 27 pessoas, segundo o exército israelense.
Pressão por resolução cresce em Israel: Hamas diz estar disposto a acordo que leve ao fim da guerra Segundo a fonte da Jihad Islâmica, "os reféns restantes serão libertados em uma segunda fase, seguida imediatamente por negociações para um acordo mais amplo" para encerrar permanentemente a "guerra e a agressão", com garantias internacionais. A fonte acrescentou que "todas as facções apoiam o que foi apresentado" pelos mediadores egípcio e catariano.
Na semana passada, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, disse que seu país aceitaria "um acordo no qual todos os reféns sejam libertados imediatamente e em nossos termos para encerrar a guerra". Por sua vez, o presidente dos EUA, Donald Trump, pediu nesta segunda-feira a destruição do Hamas como solução para a crise dos reféns.
Em sua conta no Truth Social, Trump escreveu: "Só veremos o retorno dos reféns restantes quando o Hamas for confrontado e destruído!" Ele acrescentou: "Quanto mais cedo isso acontecer, maiores serão as chances de sucesso".
Enquanto isso, em uma cena que se tornou comum em Gaza, imagens da AFP de Khan Younis, no sul do enclave, mostraram multidões de enlutados ajoelhadas sobre os corpos cobertos de seus entes queridos, mortos enquanto buscavam ajuda humanitária no domingo.
Na fronteira egípcia com Gaza, o Ministro das Relações Exteriores do Egito, Badr Abdelatty, visitou a passagem de Rafah nesta segunda-feira e disse que o primeiro-ministro do Catar, Mohamed bin Abdulrahman al-Thani, estava visitando seu país para "exercer a máxima pressão sobre as partes" para que se chegasse a um acordo.
Abdelatty enfatizou a necessidade urgente de se chegar a um acordo devido às terríveis condições humanitárias enfrentadas por mais de dois milhões de moradores de Gaza, que, segundo a ONU e organizações humanitárias, estão morrendo de fome.
— A situação atual in loco é inimaginável — comentou o ministro das Relações Exteriores.
O Egito também declarou sua disposição de se juntar a uma possível força internacional implantada em Gaza, mas somente se for apoiada por uma resolução do Conselho de Segurança da ONU, com um "horizonte político".
Campanha 'deliberada' contra a fome
A Defesa Civil de Gaza informou que 11 pessoas foram mortas nesta segunda-feira em ataques israelenses no território palestino. A AFP não pode verificar de forma independente as informações e os detalhes fornecidos pela Defesa Civil Palestina e pelo Exército israelense devido às restrições à imprensa em Gaza e às dificuldades de acesso a áreas do território palestino.
Enquanto isso, o grupo de direitos humanos Anistia Internacional acusou Israel nesta segunda-feira de realizar "uma campanha de fome deliberada" em Gaza e de destruir sistematicamente "a saúde, o bem-estar e o tecido social" no território palestino. Israel rejeitou alegações semelhantes anteriores, mas continua a restringir significativamente o fluxo de ajuda humanitária para a Faixa de Gaza.
O ataque do Hamas que desencadeou a guerra em outubro de 2023 deixou 1.219 mortos, a maioria civis, de acordo com uma contagem baseada em dados oficiais. A ofensiva israelense em resposta ao ataque, por sua vez, já deixou quase 62 mil palestinos mortos, a maioria civis, de acordo com dados do Ministério da Saúde de Gaza, considerados confiáveis pela ONU.
Fonte: oglobo.globo.com
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