Por unanimidade, a 1ª Tuma do Supremo Tribunal Federal condenou a empresária bolsonarista Aparecida Solange Zanini, 66 anos, de Três Lagoas, a 14 anos de prisão no regime fechado pelos atos antidemocráticos de 8 de janeiro. Em julgamento virtual concluído nesta terça-feira (25), ela também foi condenada a pagar indenização por danos morais de R$ 30 milhões – valor que será dividido com outros condenados.
Aparecida é a primeira mulher e idosa Mato Grosso do Sul condenada por apoiar a trama golpista e participar da invasão e depredação dos prédios do Congresso Nacional, do STF e do Palácio do Planalto. Ela é o 10º bolsonarista condenado no Estado. Outros nove foram punidos com penas de 113 anos de prisão. Todos eram homens e tinham idades entre 30 e 53 anos.
A três-lagoense teve a prisão preventiva decretada pelo ministro Alexandre de Moraes, relator no STF, e pode entrar para o rol de “vítimas” citados constantemente pela família Bolsonaro e seguidores, de que idosos e mulheres foram condenados pelos atos de 8 de janeiro. A prisão de idosas é sempre citada como motivo para aprovar a anistia ampla, geral e irrestrita.
A condenação
Moraes votou para condenar Aparecida Solange Zanini e a amiga, Silvia Monteiro Sampaio de Souza, 59, de Andradina (SP). Conforme o ministro, elas foram condenadas por cinco crimes: abolição violenta do estado democrático de direito, golpe de estado, dano qualificado, deterioração do patrimônio tombado e associação criminosa.
Os ministros Flávio Dino e Cármen Lúcia acompanharam na íntegra o voto do relator. O ministro Cristiano Zanin acompanhou o relator com divergências. “Enfatizo, logo ao início, que acompanho integralmente o Relator quanto à procedência da pretensão punitiva, entendendo incontroversas materialidade e autoria, embora divirja, em alguns pontos, quanto à dosimetria da pena”, ponderou Zanin, mas não detalhou as divergências.
“Registro que, apesar de meu voto contemplar, originalmente, divergência em relação a alguns pontos da dosimetria da pena, em atenção ao princípio da colegialidade e às demais manifestações por mim já externadas em outras oportunidades, adiro aos termos lançados no voto do eminente Relator”, concluiu.
PRF e gravações nas redes sociais
O procurador-geral da República, Paulo Gonet, apontou que Aparecida e Silvia organizaram a caravana com 42 pessoas, ao custo de R$ 300 por cabeça, que foi a Brasília para participar da manifestação. A Polícia Rodoviária Federal fichou as mulheres na ida e na volta de Brasília em Anápolis (GO).
“Conforme demonstrado durante a instrução processual, APARECIDA SOLANGE ZANINI e SÍLVIA MONTEIRO SAMPAIO DE SOUZA participaram ativamente como executoras materiais dos crimes orquestrados pela organização criminosa que, movida pela inconformidade com o resultado das eleições presidenciais de 2022 e visando a abolição do Estado Democrático de Direito, invadiu as sedes dos Três Poderes da República em Brasília/DF, causando danos significativos ao patrimônio público, inclusive bens tombados, mediante violência à pessoa e grave ameaça, gerando prejuízo considerável à União”, afirmou Moraes ao longo do voto, com 99 páginas.
“A identificação das denunciadas APARECIDA SOLANGE ZANINI e SILVIA MONTEIRO SAMPAIO DE SOUZA ocorreu, inicialmente, a partir de abordagem realizada por uma equipe da Polícia Rodoviária Federal (Ocorrência n. 3039594230109134002) e, posteriormente, por meio de mensagens, imagens e vídeos dos atos do dia 8.1.2023, encontrados nos aparelhos celulares apreendidos em poder das investigadas e compartilhados nas redes sociais Facebook e WhatsApp”, apontou o ministro.
“Identificou-se, ainda, a partir de comentários realizados em vídeos postados pela investigada APARECIDA SOLANGE ZANINI, a disseminação de ideias antidemocráticas e favoráveis ao golpe de Estado, com incentivo à intervenção militar”, frisou.
Durante mensagem de áudio datada de 3.1.2023, APARECIDA SOLANGE ZANINI incita ações assertivas e violentas, afirmando que os manifestantes devem ‘ir pra cima’ e ‘quebra o pau e quebra tudo aquilo lá’, além de caracterizar o cenário como ‘agora é tudo ou tudo ou nada’”, destacou.
Em seguida, ele destacou a mensagem enviada na íntegra por Aparecida:
“Não sei, Sonja. vai ter que ir pra cima desse povo, minha filha. Porque olha, vou te falar, a coisa tá feia. Não vai nem seis meses pra virar Venezuela se a gente deixar. Agora é tudo ou é tudo ou nada, ou larga a mão e deixe e vai viver igual aos venezuelanos ou então vai pra dma e quebra o pau e quebra tudo aquilo lá e não deixa o povo entrar. E vai ter que fazer alguma coisa porque agora não tem mais nada, não tem aonde segurar, não tem mais aonde a gente se apegar, né? Não sei, fia. Não sei, vamos ver o que o povo vai resolver né. Eu falei, eu tô eu estou pra tudo, entendeu?! Eu topo e vamos embora e vamos pra cima eu acho que é isso que tem que fazer”, disse a empresária de Três Lagoas.
Silvia gravou e postou mensagens nas redes sociais durante a invasão e depredação do Congresso Nacional. “Estou ao vivo aqui agora, quase quatro horas. Tá uma loucura, o pessoal subindo a rampa… já tomaram o local. Tão vindo mais pessoas, tava tudo fechado, mas o pessoal… brasileiro sabe o que faz. Derrubaram tudo e entraram. Então estamos aqui, guerreando pela nossa pátria, pelo nosso povo. Tô aqui de pé machucado, mas tô firme e vamos ganhar essa gente”, afirmou a paulista.
Os outros nove bolsonaristas condenados em MS foram:
Fábio Jatchuk Bullmann, 42 anos, de Campo Grande, a 14 anos de prisão
Djalma Salvino Reis, 46 anos, de Itaporã, a 14 anos de prisão
Ivair Tiago de Almeida, o Russo, 48 anos, de Maracaju, a 17 anos de prisão no regime fechado
Diego Eduardo de Assis Medina, 33 anos de Dourados, a 17 anos de prisão no regime fechado
Ilson César Almeida de Oliveira, de Sidrolândia, 46 anos, a 16 anos e seis meses de prisão no regime fechado
Eric Prates Kobayashi, de Campo Grande, 42 anos, a 15 anos e seis meses de prisão no regime fechado
José Paulo Alfonso Barros, 47 anos, de Ponta Porã, a 17 anos e seis meses de prisão
Joci Conegones Pereira, 53 anos, morador do Conjunto Aero Rancho, em Campo Grande – um ano de detenção (prestação de serviços)
Rodrigo Ferro Pakuszeski, 30 anos, Ponta Porã – um ano (prestação de serviços).
Fonte: ojacare.com.br
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