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Em 1977, MS surgiu no mapa brasileiro com traçado que segue a lógica das águas

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Vista aérea do Pantanal sul, na região de Corumbá.

Foto: Fundação de Turismo do Pantanal

Mato Grosso do Sul é o aniversariante deste sábado, 11 de outubro

A criação de Mato Grosso do Sul, há 48 anos, não foi marcada por disputas territoriais. O traçado que dividiu o antigo Mato Grosso seguiu critérios geográficos, sociais e econômicos e manteve no sul do país a maior parte do Pantanal. Cerca de 65% do bioma está em território sul-mato-grossense.

Mais do que uma decisão política, o formato atual do Estado reflete a lógica das águas e das culturas que moldaram sua história.

“Não houve disputa sobre quem ficaria com o Pantanal. O desenho respeitou o relevo, a hidrografia e as características culturais. A maior preocupação era administrativa: Mato Grosso era muito grande e difícil de governar”, explica o historiador Marcelo Piccolli, especialista em cultura brasileira.

Decisão de gabinete - A separação foi conduzida durante o regime militar, sem consulta popular. Participaram apenas parlamentares e integrantes da Liga Sul-Mato-Grossense Pró-Divisão do Estado, grupo que articulava a emancipação política da região.

“Os militares queriam ocupar os chamados ‘vazios geográficos’ do país e garantir segurança nas fronteiras. Foi uma decisão de gabinete,” lembra Piccolli.

O novo Estado foi criado em 1975 e implantado dois anos depois, em 1977.

Sonho dos divisionistas - A história também tem um lado emocional. Marisa Machado, filha de Paulo Machado, um dos fundadores da Liga, lembra que o pai, então secretário de Agricultura, recolheu assinaturas de quem conhecia para viabilizar a criação do novo Estado.

A pedido do presidente Ernesto Geisel, ele liderou um estudo técnico e apresentou o projeto ao governo federal. “Tudo foi feito de forma apressada, porque o sonho da divisão já era antigo entre os moradores do sul”, recorda Marisa.

Vista área do Pantanal, que tem 65% de sua área em MS (Foto: Fundação de Turismo do Pantanal)

Dois mundos - Segundo Piccolli, o sul-mato-grossense já possuía economia e cultura próprias, voltadas à pecuária e à produção de erva-mate, com forte influência do Sudeste.

“Corumbá já tinha uma cultura híbrida, com presença da Marinha e de marinheiros vindos do Rio de Janeiro. Já Três Lagoas sempre manteve vínculos diretos com São Paulo”, diz o historiador.

Enquanto isso, o norte do antigo Mato Grosso vivia sob a lógica amazônica — baseada no extrativismo da borracha e na mineração de ouro. “A divisão apenas formalizou o que a prática já mostrava: duas regiões com realidades econômicas, sociais e culturais distintas”, resume.

Piccolli lembra ainda que a primeira divisão territorial do Mato Grosso ocorreu em 1943, com a criação do Território Federal do Guaporé, hoje Rondônia, durante a Marcha para o Oeste.

As águas - Se a política desenhou as fronteiras, a hidrografia definiu a identidade do novo Estado. O Pantanal é o grande elo das águas e símbolo da biodiversidade que sustenta o território.

“Todos os rios das regiões mais altas nascem no planalto e seguem para o Pantanal. O Rio Paraguai é o principal eixo: recebe as águas dos rios Cuiabá, São Lourenço, Piquiri e Itiquira, que vêm de Mato Grosso, e depois segue para o sul, passando por Porto Murtinho até desaguar no Rio Paraná”, explica o pesquisador da Embrapa Pantanal, Carlos Roberto Padovani.

Segundo ele, 80% da água que alimenta o Pantanal sul-mato-grossense vem de nascentes em Mato Grosso, o que cria uma dependência natural entre os dois estados. “É fundamental que haja políticas alinhadas para a gestão da água”, alerta.

Nhecolândia - O lado sul do bioma abriga uma das paisagens mais encantadoras do mundo: a Nhecolândia. Entre baías e lagoas — doces e salinas —, a região é um espetáculo de cores e biodiversidade.

“Sem dúvida, é uma beleza única. No entorno, as piúvas floridas criam uma paisagem que só existe aqui”, descreve Padovani.

Corumbá, cidade considerada a Capital do Pantanal Sul. (Foto: Fundação de Turismo do Pantanal)

Turismo - Essa riqueza natural é o que o turismo busca mostrar ao mundo. Segundo o diretor-presidente da Fundação de Turismo do Pantanal, Zelinho Carvalho, Corumbá concentra 60 mil km² de área pantaneira e é a principal porta de entrada do bioma, inclusive para visitantes que chegam pela Bolívia.

De janeiro a setembro deste ano, Mato Grosso do Sul recebeu 54.318 turistas, sendo 59% vindos pela fronteira com a Bolívia, por via terrestre, um total de 32.163 pessoas, conforme o Ministério do Turismo.

“O Pantanal de Corumbá reúne uma ampla diversidade de paisagens, fauna exuberante e cultura. É aqui que o turista vivencia a autenticidade da vida pantaneira, pratica a pesca esportiva e tem contato com tradições centenárias e hospitalidade única”, afirma Zelinho.

O gestor destaca que o município tem reforçado ações de divulgação dentro e fora do país, com presença em feiras, eventos e campanhas voltadas ao turismo sustentável e à pesca esportiva.

Após quase uma década sem levantamentos oficiais, Corumbá voltou a ter estatísticas atualizadas com o Observatório de Turismo do Pantanal, criado em janeiro de 2025.

“De acordo com os dados obtidos nestes nove meses, a maioria dos turistas é formada por brasileiros, principalmente de Mato Grosso do Sul, da Região Sudeste e da Região Sul”, aponta Zelinho.

Fonte: campograndenews.com.br

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