O comércio ilegal de armas de fogo continua intenso em Mato Grosso do Sul, mesmo com a forte atuação da Polícia Federal (PF), que assumiu o controle de registro de armamentos em 2023.
O Correio do Estado teve acesso a um esquema sediado em Campo Grande que sorteia armamentos, alguns de grosso calibre e de uso restrito de forças especiais, para todo o Brasil.
O esquema de comercialização é feito no submundo, por meio de grupos de WhatsApp de pessoas ligadas a um grupo que incentiva a caça no Estado. Só no ano passado, pelo menos 13 rifas de armas foram realizadas na Capital por meio de um grupo que oferece ações beneficentes via redes sociais.
O esquema ilegal de sorteios oferece rifas de pistolas, como, por exemplo, uma Glock de calibre 380, com cada número vendido a R$ 85, e uma espingarda Winchester calibre 22, com cada número sendo vendido a R$ 50, além de espingardas calibre 12 e calibre 24.
As “ações entre amigos”, apurou o Correio do Estado, ocorreram durante todo o ano passado e há indícios de que elas ainda continuem sendo realizadas. A suspeita é de que um homem ligado a um clube de caça sediado em Campo Grande seja líder e promotor dessas rifas de armamentos.
Ainda não há informações sobre se o armamento que é sorteado via internet é adquirido de maneira legal em território brasileiro ou se é trazido clandestinamente de outros países.
Por causa da facilidade de acesso, é comum que armamentos ilegais entrem no Brasil por meio de fornecedores que os trazem via Paraguai ou Bolívia.
A comercialização de armas sem autorização expressa da PF é crime, como prevê a legislação, e quem a faz está sujeito a uma pena que pode variar de 6 anos a 12 anos de prisão, além de multa.
Além disso, o decreto federal que regula as promoções em todo o Brasil estabelece que armas, munições, explosivos, fogos de artifício, bebidas alcoólicas, fumo e derivados não podem ser objeto de promoção mediante distribuição de prêmios.
O Correio do Estado apurou que os autores do comércio ilegal de armas de fogo a partir do Estado para todo o Brasil já foram devidamente identificados e que uma ação contra este tipo de rifa é uma questão de tempo.
O esquema de rifas de armamentos é feito por meio de grupos de WhatsApp, e o pagamento dos números e a realização dos sorteios seriam feitos nesses espaços.
OUTROS CASOS Esta não é a primeira vez que um morador de Mato Grosso do Sul é pego fazendo rifas de armas de fogo. No início da década, antes de se eleger deputado federal pelo PL, o presidente do grupo ProArmas, Marcos Pollon, foi denunciado pelo professor de História Douglas Belchior, cofundador da União de Núcleos de Educação Popular para Negras, Negros e Classe Trabalhadora (Uneafro Brasil), por promover o sorteio de armamentos pela internet.
Na época, Pollon teria anunciado o sorteio em vídeo durante uma live em seu canal do YouTube. O jornal Folha de S. Paulo publicou na época que, para driblar a portaria, ele teria usado a palavra furadeira para se referir a revólver: “Aqui, na descrição do vídeo tem um link para o pessoal adquirir os convites para o nosso churrasco […] e a gente está vendo uma forma de presentear quem for no 9 de julho com o sorteio de uma furadeira”. O conteúdo acabou removido na época do canal de Marcos Pollon.
Em 2023, o Batalhão de Choque da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul chegou a abrir na internet a rifa de uma espingarda da marca CBC, modelo Pump 3.0, de calibre 12.
A ação entre amigos era para levantar fundos para os policiais ajudarem um colega que tinha câncer no cérebro a pagar um tratamento. Ao saberem da proibição legal de se sortear armamentos, o valor do armamento foi trocado por dinheiro, para que o sorteio pudesse seguir adiante. Na época, a espingarda era avaliada em aproximadamente R$ 8 mil.
Fonte: correiodoestado.com.br
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