Três Lagoas vive hoje um paradoxo que desafia qualquer leitura simplista sobre desenvolvimento. Somos, sem dúvida, uma das cidades mais pujantes do Brasil em termos econômicos. Com um PIB per capita de R$ 130.583,32, ocupamos a 115ª posição nacional entre os 5.570 municípios brasileiros. No Mato Grosso do Sul, estamos atrás apenas da capital, Campo Grande. A indústria de celulose nos projetou para o mapa da produção nacional, e os números não deixam margem para dúvida: somos vanguarda econômica.
Mas quando olhamos para os indicadores sociais, a história muda de tom.
Segundo o Índice de Progresso Social Brasil (IPS Brasil), Três Lagoas ocupa a 1.025ª posição nacional em 2025, com pontuação de 62,59. No ranking estadual, somos o 4º colocado, atrás de cidades com menor expressão econômica. Essa distância entre o que produzimos e o que vivemos revela um descompasso que precisa ser encarado com seriedade.
De onde saímos e onde chegamos
Em 2010, nosso PIB per capita girava em torno de R$ 18 mil. Hoje, é mais de sete vezes maior. Já o IPS, que mede qualidade de vida com base em saúde, educação, moradia e oportunidades, cresceu apenas 4,59 pontos em 15 anos. Em outras palavras, nossa economia avançou como se estivéssemos em 2030, mas nosso progresso social ainda caminha em 2012.
Essa estagnação não é apenas estatística. Ela se reflete na dificuldade de acesso à saúde especializada, na insegurança urbana, na baixa inclusão produtiva da população local e na persistente desigualdade de renda. Enquanto os caminhões carregam riqueza para fora, muitos cidadãos ainda esperam que essa prosperidade bata à porta.
O que os números revelam
- Moradia e saneamento básico são pontos fortes, com notas acima de 88 no IPS.
- Saúde e bem-estar e segurança pessoal seguem como gargalos, com pontuações abaixo da média nacional.
- O componente de oportunidades, que mede inclusão social e acesso à educação superior, ainda não acompanha o ritmo da indústria.
O desafio da próxima década
Três Lagoas precisa transformar sua potência econômica em justiça social. O crescimento não pode ser apenas medido em toneladas de celulose ou em bilhões de reais. Ele precisa ser sentido nas ruas, nas escolas, nos postos de saúde e na mesa das famílias.
A cidade que lidera o PIB precisa também liderar o progresso humano. E isso exige mais do que números: exige visão, coragem e compromisso com quem vive aqui.
Por: Fernando Jurado
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