Após afirmar que não se surpreendeu com a decisão dos Estados Unidos de aplicar novas tarifas sobre produtos brasileiros, o governador Eduardo Riedel (PSDB) classificou como um “equívoco” a medida anunciada pelo ex-presidente Donald Trump, que pode afetar diretamente as exportações de Mato Grosso do Sul.
“Acho um equívoco do presidente Trump em taxar o Brasil, até porque a relação comercial com os Estados Unidos é antiga e nós não somos mais importadores do que exportadores. Nosso saldo com eles é negativo”, declarou o tucano durante a assinatura de autorização para construção de novas unidades habitacionais nesta segunda-feira (14).
A fala foi dada devido a carta enviada por Trump ao Brasil na última semana, quando o ex-presidente americano formalizou o tarifaço sobre as exportações brasileiras a partir de 1º de agosto. A medida, segundo ele, seria justificada também por uma suposta perseguição das autoridades brasileiras ao ex-presidente Jair Bolsonaro.
Apesar da repercussão que o tema ganhou nesses últimos dias, Riedel defendeu uma solução “no âmbito da diplomacia, da conversa”, e afirmou que o governo federal deve buscar saídas pela via da negociação no comércio exterior.
“Infelizmente, ganhou conotação política. E aí fica difícil, porque quando tem política não tem razão e não tem negociação, apenas política. E a gente não gostaria de ver isso evoluir”, completou o governador.
Em declarações anteriores, Riedel já havia evitado atribuir responsabilidades ao Governo Federal ou a aliados de Bolsonaro, ao mesmo tempo em que procurou minimizar o impacto político do anúncio feito por Trump.
“Desde que o presidente Trump assumiu, ele enviou cartas como essa para vários países e falou que iria enviar depois. Então não me surpreendeu”, disse ele na última sexta-feira (11).
Mesmo sem demonstrar surpresa, o governador destacou que a medida é ruim para o Brasil e tem impacto direto em Mato Grosso do Sul, que no ano passado exportou cerca de US$ 700 milhões aos Estados Unidos.
“Entendo que a gente tenha que usar o caminho da negociação diplomática. Ele tem feito isso com vários parceiros”, disse, se referindo ao comportamento de Trump em relação a outros países.
Comitê vai discutir tarifa
De acordo com o governo federal, um comitê de trabalho interministerial foi criado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e vai se reunir com setores empresariais da indústria e do agronegócio para definir estratégias de negociação e reversão das tarifas de 50% impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, aos produtos do Brasil.
O grupo conta com a participação do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), da Casa Civil, do Ministério das Relações Exteriores e do Ministério da Fazenda, e será coordenado pelo vice-presidente e titular do MDIC, Geraldo Alckmin.
Em declaração à imprensa na tarde desta segunda-feira (14), no Palácio do Planalto, Alckmin deu detalhes sobre as conversas. As duas primeiras reuniões ocorrerão nesta terça-feira (15), na sede do MDIC, em Brasília.
A primeira, agendada para as 10h, reunirá setores industriais que têm mais relação de comércio exterior com os EUA, como empresas de aviação, aço, alumínio, celulose, máquinas, calçados, autopeças, entre outros. Devem participar entidades setoriais e, em alguns casos, as próprias empresas. Um representante do Ministério de Portos e Aeroportos também deve comparecer.
Na parte da tarde, às 14h, as empresas do agronegócio serão recebidas, incluindo setores que exportam suco de laranja, carnes, frutas, mel, couro e pescado.
Neste caso, além das quatro pastas que integram o comitê, representantes do Ministério da Agricultura (Mapa), do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e do Ministério da Pesca participarão da reunião.
"Essa é a primeira conversa, mas nós vamos dar continuidade a esse trabalho. E vamos também marcar com entidades e empresas americanas, porque tem uma integração de cadeia. Então, é evidente que as empresas americanas também vão ser atingidas. Vamos conversar com as empresas americanas e com a Câmara de Comércio Exterior Brasil-EUA (Amcham)", afirmou Alckmin.
Ele citou, por exemplo, o fato de o Brasil importar carvão siderúrgico dos EUA para fabricar aço semiplano e depois vender esse aço de volta ao mercado norte-americano, que produz motores e outros produtos de maior valor agregado.
Segundo Alckmin, ele não foi procurado por autoridades americanas desde o anúncio de Trump, mas informou que, antes do tarifaço, o Brasil já havia encaminhado proposta sobre taxas comerciais para autoridades dos EUA.
"No dia 16 de maio foi encaminhada, até em caráter confidencial, uma proposta de negociação para os Estados Unidos e não foi respondida ainda", revelou.
A expectativa de Alckmin é de que a participação dos setores empresariais brasileiros diretamente atingidos pela tarifa ajude a mobilizar empresas norte-americanas. O vice-presidente negou especulações de que o Brasil teria solicitado redução da tarifa neste momento.
"O governo não pediu nenhuma prorrogação de prazo e não fez nenhuma proposta sobre a alíquota, sobre o percentual. O que nós estamos fazendo é ouvindo os setores mais envolvidos, para o setor privado também participar e se mobilizar com seus congêneres e parceiros nos Estados Unidos, fazer essa articulação e o governo também o fará. Todo o empenho em rever essa questão [tarifa], porque ela é totalmente inadequada", observou.
Fonte: correiodoestado.com.br
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