As plantas frigoríficas de Mato Grosso do Sul que exportam carne bovina para os Estados Unidos já redirecionaram suas produções para outros mercados. O Correio do Estado apurou que o grupo JBS, o maior exportador do Estado, redirecionou os lotes para China, Chile e outros mercados.
Fontes ouvidas pela reportagem afirmaram que, além dos dois principais destinos (China e Chile), a produção do grupo também foi redirecionada para países do Oriente Médio e Filipinas.
Consultado sobre o redirecionamento, o vice-presidente do Sindicato das Indústrias de Frios, Carnes e Derivados de Mato Grosso do Sul (Sicadems), Alberto Sérgio Capuci, confirmou que todos os frigoríficos que enviam carne bovina aos Estados Unidos já normalizaram os abates e redirecionaram a produção para outros países.
“Sim, já está tudo normal, foi tudo redirecionado”, confirmou Capuci, além da JBS, Minerva e Naturafrig também enviam carne aos Estados Unidos.
O redirecionamento da produção é a segunda reação das indústrias frigoríficas de Mato Grosso do Sul. A primeira decisão, divulgada com exclusividade pelo Correio do Estado, foi a de suspender as exportações para o país norte-americano imediatamente após a decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de taxar em 50% todas as exportações brasileiras a partir de 1º agosto.
O titular da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc), Jaime Verruck, havia adiantado que havia a possibilidade de as indústrias acessarem novos mercados em decorrência do novo status de MS de área livre de aftosa sem vacinação.
“Isso é um fator extremamente positivo, porque vários mercados que a gente não acessava até então podem ser acessados agora exatamente em função dessa restrição americana”.
Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic) apontam que as vendas de Mato Grosso do Sul aos EUA somaram US$ 315 milhões (R$ 1,7 bilhão) de janeiro a junho deste ano, ante US$ 283 milhões no mesmo período do ano passado (R$ 1,4 bilhão) – alta de 11,4%.
Somente a carne bovina teve alta de 78% nas exportações entre os dois anos, saindo de US$ 81,434 milhões, no primeiro semestre do ano passado, para US$ 145,201 milhões, no primeiro semestre deste ano.
A depender da velocidade com que o Brasil consegue redirecionar sua produção e negociar com os Estados Unidos, os efeitos podem ser amenizados. No entanto, como advertiu o economista Eduardo Matos, o impacto não deve ser subestimado.
“No curto prazo, logicamente, haverá efeitos negativos. No entanto, no médio e no longo prazo, eu vejo uma normalização do comércio internacional, até mesmo porque essa questão não é favorável nem mesmo para os Estados Unidos, tampouco para o Brasil”.
ARROBA
Apesar da readequação do mercado, a arroba do boi gordo continua em queda no mercado físico. Conforme dados da Granos Corretora, a arroba do boi gordo já recuou 6% ou R$ 17,65 em uma semana, saindo de R$ 303,30, no dia 7 – antes do anúncio de Donald Trump – e chegando a R$ 285,65 ontem.
No comparativo com o dia 27 de junho, quando a arroba era negociada a R$ 307,20, a queda chega a R$ 21,55 (7%).
A diminuição dos preços pagos aos produtores é uma preocupação do setor da pecuária, como noticiado pelo Correio do Estado. A União Nacional da Pecuária (UNP) manifestou, por meio de nota, preocupação moderada com a tarifa de 50% anunciada pelos Estados Unidos sobre a carne bovina brasileira.
“Apesar do alarde gerado, o impacto prático da medida tende a ser limitado”, informou a UNP, da qual a Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul (Acrissul) faz parte.
De acordo com a nota, o que preocupa o setor “é o movimento de algumas indústrias que tentam utilizar esse cenário como justificativa para pressionar a queda do valor da arroba – prática que consideramos inaceitável”, detalhou a UNP.
O presidente da Associação Sul-Mato-Grossense dos Criadores de Nelore (Nelore-MS), Paulo Matos, afirmou que o que está ocorrendo é uma tentativa explícita da indústria de transferir os custos de disputas comerciais internacionais para o produtor rural.
“Os EUA compram apenas 8% da carne que exportamos, o que representa 2,3% da produção brasileira. Falar em colapso de mercado interno é, no mínimo, má-fé. É um discurso criado para tentar jogar a conta dessas tarifas em cima do produtor, pagando menos pelo nosso boi,” denunciou Paulo Matos.
Segundo ele, a análise técnica da entidade mostra que, mesmo com uma queda de até 70% nos embarques para os Estados Unidos, o excedente gerado seria de 160 mil toneladas em um ano.
“É claro que os frigoríficos querem ampliar margens e usam qualquer argumento para isso, mas o produtor rural não pode ser tratado como amortecedor dos problemas internacionais. Somos nós que geramos emprego, compramos insumos, maquinários e alimentamos o Brasil e o mundo,” criticou.
Fonte: correiodoestado.com.br
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